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'Alimentar crianças com peixes, focas e baleias é abuso infantil'

Sea Shepherd: O capitão do "Farley Mowat", Paul Watson responde a perguntas de Renato Pichler, presidente da União Vegetariana Européia.

31 de janeiro de 2006.

Renato Pichler: Tem havido um grande interesse na sua confrontação com a indústria baleeira japonesa. Eu sei que você não pode entrar em detalhes, mas poderia nos resumir sua mais recente experiência?

Capitão Paul Watson: Nós partimos no dia 8 de dezembro de Melbourne, sentido sul, para a costa da Antarctica. Quando encontramos a frota baleeira japonesa no dia 21 de dezembro ela começou a se dirigir em velocidade para o norte e para o oeste ao longo de 600 milhas (966 km). Nosso encontro ocorreu no Natal durante um temporal. Novamente ela se afastou em velocidade, desta vez por onze dias numa área de 2.500 milhas (4.023 km ). Voltamos a segui-la até nos encontrarmos de novo no dia 8 de janeiro. No dia seguinte interceptamos o navio de suprimentos "Oriental Bluebird" e exigimos sua saída do santuário Southern Whale. Em virtude de sua recusa viramos nosso barco a estibordo em sua direção chocando-nos assim com eles. Fomos atrás deles até saírem do santuário.
A frota japonesa afastou-se por mais umas 700 milhas (1.127 km) a oeste e nós no seu encalço enquanto nosso combustível assim o permitiu, depois tivemos que navegar para o porto mais próximo - 2600 milhas (4.184 km) até Cape Town, África do Sul.
No total nossa perseguição cobriu cerca de 4.000 milhas (6.437 km) evitando assim a caça por 15 dias. Os japoneses admitiram que isto causou um impacto nas suas quotas, o que faz com que nossa intervenção tenha valido a pena.
O mais importante é que os baleeiros nos temem e isto é a chave para que nós os paralisemos por completo. Necessitamos de um barco mais rápido para dezembro de 2006. Se conseguirmos alcançá-los poderemos paralisá-los todos os dias salvando assim centenas de baleias.
O Greenpeace tinha um barco veloz que acompanhava a frota baleeira, mas ela é limitada quanto à tática. Eles não intervém. Em vez disso testemunham a matança e documentam a morte das baleias.
Esta é a grande diferença entre o Greenpeace e o Sea Shepherd. Nós não viemos para a Antarctica para protestar e presenciar a morte das baleias. Nós viemos para garantir que a lei internacional de preservação seja respeitada via paralisação das atividades ilegais dos baleeiros e nos orgulhamos pelo fato de não termos visto nenhuma baleia morrer. Os japoneses não se atreveriam matar baleias na nossa presença, pois sabem que iríamos nos atirar contra eles para salvá-las. Afinal, nós afundamos nove baleeiros desde 1979.


Renato Pichler: O que levou você a ter um interesse tão grande em mamíferos marinhos? E quando foi que você decidiu dedicar sua vida a eles?

Capitão Paul Watson: Eu cresci numa aldeia de pescadores na costa leste canadense. Aos 8 anos eu até salvei duas lagostas e as criei como bichinhos de estimação. Aos 10 anos eu tinha um amigo castor que foi morto por armadilhas e eu retaliei seguindo as linhas das armadilhas, destruindo-as e libertando os animais. Ainda criança eu fui membro do clube da bondade, um grupo que encorajava as crianças a serem boas para com os animais. Aos 18 anos eu fui co-fundador de um grupo chamado "Comitê Não Faça uma Onda" que em 1972 se tornou a "Fundação Greenpeace". Em 1977 eu saí do Greenpeace e fundei a "Sociedade Pastor de Conservação Marinha" Sea Shepherd Conservation Society. Ela não é um grupo de protesto. É um grupo intervencionista. Nos opomos a exploração ilegal que tem como alvo a vida marinha.


Renato Pichler: Quando foi a primeira vez que você zarpou sob a 'Sea Shepherd Foundation' e qual foi sua primeira missão?

Capitão Paul Watson: Eu fundei a "Sociedade Pastor de Conservação Marinha" em 1977. Adquirimos nosso primeiro barco, o "Sea Shepherd" em outubro de 1978 e a nossa primeira campanha ocorreu em 1979 quando intervimos contra a matança das focas canadenses. Nossa segunda campanha se deu em junho e julho de 1979 quando caçamos, colidimos e inutilizamos o baleeiro pirata "Sierra" fora da costa portuguesa.


Renato Pichler: Apareceu um relatório dizendo que a comida a bordo do seu navio era vegana. Todos os tripulantes são veganos ou eles "apenas" se adaptam à ocasião?

Capitão Paul Watson: Nem todos os tripulantes são veganos nem mesmo vegetarianos, mas eles viram veganos quando estão em alguma missão. Em 2002 nós nos tornamos a primeira expedição vegana a viajar para a Antarctica. Muitos tripulantes que foram expostos por meses a fio ao nosso cardápio vegano, se converteram ao veganismo e sentiram os benefícios à sua saúde. Achamos engraçado quando neste ano um porta-voz japonês da industria baleeira nos tachou de "veganos perigosos" e "acrobatas circenses". Estes foram os rótulos mais estranhos que já recebemos e olha que xingamentos nunca faltaram.
O primeiro barco da fundação foi o "Sea Shepherd", era uma embarcação vegetariana, isto em 1978.


Renato Pichler: Por qual razão você pessoalmente não come carne/peixe?

Capitão Paulo Watson: Minha primeira preocupação foi para com os peixes. Eu sou um conservacionista dos mares e sempre me impressionou de maneira estranha o fato de abatermos um numero tão grande de seres marinhos. As pessoas não tolerariam uma matança nestas proporções de animais selvagens. Peixes são essencialmente carne de arbusto. Muitas pessoas acham deplorável que os povos da África Ocidental matem e comam gorilas, chimpanzés, leões e girafas da selva e ao mesmo tempo acham certo capturar e matar tubarões, peixes-espada, atum e outras espécies marinhas.
Muitas espécies de peixes vivem por muitos anos. O Hipoglosso vive 150 anos. O Hoplosthesus atlanticus só chega a maturidade sexual após os 45 anos. A lagosta chega aos 200 anos. E nós nos preocupamos tão pouco em ceifar a vida de um jovem peixe ou na flor da idade por um sanduíche de atum ou uma salada de lagosta.
Mais de 50% da pesca é usada como alimento para os animais. Nós transformamos vacas, carneiros, galinhas e porcos nos maiores carnívoros aquáticos. Além disto ser perversamente anti-natural também contribui para a diminuição maciça da vida marinha. Conseqüentemente não como carne para salvar os peixes.
Minha esposa é vegana há vinte anos e como sou eu quem cozinha, aprendi a ser um bom cozinheiro vegano. Na minha opinião as refeições veganas são mais variadas, mais imaginativas e mais saborosas do que as feitas de carne e peixe.


Renato Pichler: Os alarmes já estão soando em relação à pesca desvairada e apesar disso ela continua aumentando a cada mês. É óbvio que algumas espécies de peixes estão no limite da erradicação e também está claro que em alguns casos já é tarde até mesmo para uma moratória. Quais são suas idéias sobre "pesca sustentável"?

Capitão Paul Watson: Não existe tal coisa "pesca sustentável". Eu detesto esta palavra "sustentável". Ela justifica qualquer coisa. Não existe nenhuma pesca comercialmente sustentável em nenhum lugar do mundo.
A pesca humana erradicou 90% dos peixes dos oceanos. Isto é uma insanidade e nós temos que por um fim a esta maciça exploração comercial destas populações aquáticas.


Renato Pichler: Como você vê esse boom da indústria da fazenda aquática? Este esquema poderia aliviar um pouco a pressão sobre o encolhimento das espécies de peixes?

Capitão Paul Watson: De maneira nenhuma. Para se criar um salmão numa fazenda aquática é preciso pescar uns cinqüenta peixes nos mares. A "aquacultura" de camarões no Equador destruiu vastos estuários e manguezais, locais onde naturalmente habitavam populações inteiras de peixes. Fazendas marinhas atraem predadores marinhos que são alvejados em grande numero pelos fazendeiros por serem "pestes".
A "aquacultura" não é a solução para o problema, ao contrário é mais um fardo e um stress para a as espécies de peixes nos mares.


Renato Pichler: Muitas pessoas alimentam-se menos de carne vermelha, mas aumentam o consumo de peixe. Alguns até acreditam que a humanidade está condenada sem peixes. Qual a sua opinião sobre isto?

Capitão Paul Watson: Os peixes sim, certamente estão condenados por causa da humanidade. Nós estamos literalmente pilhando as espécies de peixes para a beira da extinção e para além disto também. Eu sempre achei engraçado que as pessoas que comem peixes se achem vegetarianas. Peixes não são vegetais. São animais. Animais selvagens.


Renato Pichler: Sabe-se atualmente que os animais que estão no topo da cadeia alimentar sofrem uma contaminação recorde com o grande número de agentes venenosos. Como você vê o fato de no Japão (onde carne de baleia é servida até para crianças em idade escolar), na Noruega e alguns outros paises, esta carne contaminada acabe sendo consumida nos jantares?

Capitão Paul Watson: Alimentar crianças com peixes, focas e baleias é abuso infantil. As crianças das ilhas de Faro tem a concentração mais alta de mercúrio no cérebro do que qualquer outro grupo de crianças na Terra devido ao seu alto consumo de baleias Piloto. Quanto mais acima o animal estiver na cadeia alimentar, maior a toxicidade. Nos Estados Unidos recomenda-se à crianças e mulheres grávidas que não consumam atum. Se não é sadio para crianças e mulheres grávidas então porque seria para homens e mulheres não grávidas?


Renato Pichler: Em nosso mundo, onde tudo está interligado, o desaparecimento de uma espécie ocasiona um impacto em várias outras. Quais serão na sua opinião, as conseqüências ecológicas quando uma espécie de baleia após a outra for extinta?

Capitão Paul Watson: Se não podemos salvar as baleias, não salvaremos os oceanos e se não formos capazes de salvar os
oceanos não seremos capazes de salvar a nós mesmos.


Renato Pichler: E qual seria seu comentário sobre o fato de baleias, animais não humanos, que estão na Terra bem antes dos seres humanos, serem massacrados com a benção e proteção de algumas nações.

Capitão Paul Watson: A espécie humana é predatória, mas o pior é que ela se comporta de forma desastrosa como se estivesse acima das leis ecológicas e qualquer espécie que não vive de acordo com as leis da ecologia está fadada ao caminho perdido da extinção. Nós temos que viver de acordo com as leis da diversidade, da interdependência e dos recursos finitos. Temos que preservar a diversidade e valorizar a interdependência e compreender que há limites para o crescimento.


Renato Pichler: Como nós vimos a palavra "santuário" não quer dizer muita coisa hoje em dia. Pescadores e caçadores de baleias fazem o que bem entendem. Qual é a probabilidade de se obter apoio internacional para a proteção eficiente de santuários quer seja através de forças neutras (ONGs), policiamento nacional ou pela marinha?

Capitão Paul Watson: Temos leis internacionais e regulamentações o suficiente, porém ninguém as cumpre. Temos centenas de santuários, mas somente alguns poucos merecem este nome. Parece haver falta de vontade ou motivação por parte dos governos para cumprir as leis e proteger os santuários. Corporações de pesca com um poder financeiro significativo acabam comprando políticos e burocratas com facilidade. Existe uma grande motivação financeira de pilhar os oceanos e uma não tão forte para protegê-los.


Renato Pichler: Você é o especialista em vida marinha. Que futuro terão os peixes e mamíferos marinhos em oceanos que são varridos pelas redes dos barcos de pesca e fortemente poluídos por toxinas e pelo barulho? Se é que há algum futuro.

Capitão Paul Watson: Não haverá futuro algum, e se não há futuro para a vida marinha então não haverá futuro para nós também. Os oceanos nos dão algo muito mais importante que alimento. Os oceanos nos suprem com 80% do nosso oxigênio. Os oceanos nos fornecem o ar que respiramos. Nós podemos sobreviver sem comer peixe mas não podemos sobreviver sem oxigênio.
A diminuição no número de baleias e peixes junto com o aquecimento global e a camada de ozônio ficando cada vez mais rarefeita, está causando conseqüências irreversíveis no eco-sistema marinho. O oxigênio produzido pelo filo-plancto diminui através do desequilíbrio ecológico provocado pela extinção em massa de peixes ou do extermínio de baleias.
Temos que abolir a exploração comercial da vida marinha. As pessoas devem parar de consumir peixe. Alguns podem ver esta proposta como sendo radical, mas ela é na realidade conservadora. Se continuarmos a saquear cruelmente os mares, eles morrerão ainda na nossa geração.


Renato Pichler: Que mudanças e melhorias você espera ver e quais as recomendações você faria aos consumidores? Como podem os indivíduos ajudar a melhorar a situação? Como poderíamos dar assistência ao Sea Shepherd?

Capitão Paul Watson: A "Sociedade Pastor de Conservação Marinha" é a única sociedade de conservação marinha que promove 100% o não consumo de peixe e animais marinhos. O abuso praticado contra as espécies marinhas pela exploração comercial chegou ao ponto de levar o comércio pesqueiro a beira do colapso econômico. Simplesmente não há peixe o suficiente nos mares para que ele continue alimentando a crescente população humana. As pessoas podem ajudar, e a melhor forma de se fazer isto é contribuindo para que a "Sea Shepherd" possa adquirir um barco novo e mais rápido nos possibilitando assim a neutralizar e fechar a frota baleeira japonesa.


Renato Pichler: Depois de ter alcançado a África do Sul são e salvo - quais são seus planos para o futuro?

Capitão Paul Watson: Estamos em campanha para angariar fundos para comprarmos um navio mais rápido, uma embarcação capaz de acompanhar a frota baleeira japonesa. Se pudermos fazer isto, seremos capazes de parar com a matança das baleias. Esta é a nossa prioridade para este ano. Vamos trocar a bandeira da nossa embarcação Farley Mowat e encarregá-la a intervir contra operações de pesca ilegal fora da costa da África Oriental.
Também temos uma embarcação em operação constante nos Galápagos trabalhando em parceria com o Parque Nacional dos Galápagos para intervir contra a caça na Reserva Marinha dos Galápagos.
Enquanto isso na África do Sul, a tripulação do Sea Shepherd estará trabalhando na reabilitação de focas feridas desta parte do oceano e ao mesmo tempo nos opondo a matança de focas na Namíbia para extração de suas peles.


Renato Pichler: Eu tenho certeza que muitos ficariam excitados em te ver e a sua tripulação em portos europeus. Você pretende levantar ancoras para a Europa num futuro próximo?

Capitão Paul Watson: Através dos anos estivemos em portos europeus. Estivemos na Grã-Bretanha, Alemanha, França, Holanda e Mônaco e eu tenho certeza que voltaremos para a Europa num futuro próximo.


Renato Pichler: Capitão Watson, em nome da União Vegetariana Européia agradeço muito de ter nos dado seu tempo para esta entrevista.


Source: Sea Shepherd Conservation Society
Author: Sea Shepherd

Link: União Vegetariana Européia

Date: 2006-02-07

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